terça-feira, 24 de março de 2020

A Peste




Longo retiro quarenteno
          e o pensamento não pára,
          vejo um mundo tão pequeno
          para um vírus que dispara. 
     
          Não há uma parede segura
          nem fronteira blindada,
          ele é já uma peste madura
          e é visita não convidada.

          Ele tem segredos estranhos
          e não diz de onde partiu,
          talvez de um rato ou aranha
          ou da cobra alem do rio.

          Dizem que cada cem anos
          a natureza faz razia,
          para fracos seres humanos
          com uma grande pandemia.

          Vamos todos dar as mãos
          e resistir ao invasor,
          esperar o próximo verão
          e sair desta luta vencedor.

Isolamento


Hoje, isolado oitavo dia
          ninguém passa nada mexe,
          nesta estranha pandemia
          fechou tudo até a creche.

          Não abro a boca p'ra ninguém
          nem falo para ela ouvir,
          para que alguém me ouça bem
          talvez tenha que usar funil.

          Onde moro:parece um deserto
          e quem passa olha de lado,
          nesta luta em campo aberto
          alguém vai estar infectado.

          As fronteiras estão fechadas
          não queremos mais turistas,
          vamos lavar bem as calçadas
          e dar férias aos fadistas.

          Pergunto ao mundo que sabe
          que estuda e pensa sereno,
          como é possível tal maldade 

          sendo um bicho tão pequeno.

O Retiro




Cacho de flores amarelas
          gozando o sol do meio dia,
          de trás das minhas janelas
          ouço da rádio a melodia.

          É neste meu cativeiro
          que fujo ao coronavírus,
          hoje não vem a padeira
          não vou ter seus sorrisos.

          Vai escasseando alimento
          os dois velhos improvisam,
          espinafres e couve do tempo
          do nosso jardim suavizam.

          Três Reis magos já chegaram
          da cidade com mais comida,
          bloqueio das compras furaram
          é gente forte e destemida.

          Nesta luta de gigantes
          os fracos vão de abalada,
          só ficam os mais pujantes
          que vão reerguer a paliçada.

Quarentena



Nos quinze dias isolado
         de todo barulho exterior,
         a causa, o vírus malvado
         que nos enche de pavor.

         De quarentena lhe chamam
         à vida que o vírus tem,
         filhos fora de quem amam
         e de quem gosta de alguém.

         Não me toques, porque pega
         afasta-te mais de mim,
         se sentires algo esfrega
         com creme de cheiro a jasmim.

         As comadres já não falam
         com medo dos perdigotos,
         as mais medrosas se calam
         pois já chegou a Marrocos.

         Esta praga dos cem anos
         vem avisar toda a gente,
         sejam brancos ou ciganos
         que a vida é água corrente.

         Com água se apaga o lume
         ser amado é ter mais sorte,
         amor grande é ter ciúme
         não há remédio p'ra morte.

O Diabo Chinês




Maldito corona vírus
         que invadiu o meu país,
         sem passaporte nem tiros
         tomou conta: e logo diz.

         Os novos tapem a boca
         e acabaram as noitadas,
         dos velhos eu tomo conta
         mando fazer mais mortalhas.

         Não há missas não há festas
         esgotaram-se as mascarilhas,
         há tempo :durmam as sestas
         e prendam em casa as filhas.

         A China conquistou o mundo
         com um vírus tão pequenino,
         mas,o seu povo moribundo
         sofre também mesmo destino.

         O Homem é senhor do mundo
         julga-se um ser imortal,
         mas é vencido num segundo
         por pequeno vírus natural.

Dia Mau





Quem não tem um dia mau
        como aquele que hoje tenho,
        não vejo porque razão
        mas sinto algo de estranho.

        Nas bruxas não acredito
        nem em maus pressentimentos,
        mas nesta tristeza eu fico
        e dou-lhes consentimentos.

        Quero sorrir não consigo
        algo por dentro me impede,
        nesta tristeza eu abrigo
        o mal que a alegria me cede.

        Não é treze e sexta feira
        nem dia de São Bartolomeu,
        mas o diabo lá na fogueira
        aponta e diz que sou eu.

        Agravando este meu estado
        vem grande praga da china,
        só saio com cara tapada
        e vou jantar na cozinha.

        A televisão só nos dá vírus
        que avança em todo o país,
        mais uma guerra sem tiros
        que não me deixa ser feliz.

Abandono

Quando abri porta de casa
       vi um cão de olhos tristes,
       ganindo e quase chorando
       e algo me diz: - não resistes.

       Tentei que se fosse embora
       gritando com a vassoura,
       e ele, volta a trás e chora
       e o meu coração estoura.

       Digo à minha companheira
       o que estava a acontecer,
       e ela: - temos uma esteira
       não vamos deixá-lo morrer.

       Fomos comprar mais ração
       o champô mais uma trela,
       vamos chamar-lhe nosso cão
       e vou dar-lhe uma barrela.

       Vamos levá-lo ao doutor
       ver se tem ou não vacinas,
       se não tiver qualquer dor
       chamo a Lucy, assim nos mimas.

       Não é justo um ser humano
       que abandona um inocente,
       mesmo que seja um estranho
       e até mesmo um cão doente.

Maldito Bicho

No princípio era um sinal
     e aos poucos muda de cor,
     com mais tempo foi fatal
     sempre juntando mais dor.

     andou sempre em tempo certo
     pois não teve mais descanso,
     no órgão que está mais perto
     dá grande salto p'ro avanço

     A ciência o quer atrasar
     com este louco movimento,
     ele se esconde,e vai furar
     p'ra enganar o medicamento.

     Agora, outro órgão o recebe
     como se ele já fosse um rei,
     e, o alojamento lhe concede
     mas depois, o destrói:é a lei.

     Maldita doença que não morre
     e, não descansa,mas nos mata,
     tentamos apanha-lo,ele corre
     só a nossa esperança,o ataca.

     Talvez um dia nasça alguém
     que domine o maldito animal,
     com uma trela e trata-lo bem
     para que ele não nos faça mal.

Tempo de Espera



Nada do que é bom mais virá
          depois, desta nossa má sorte,
          porque o mundo não findará
          mas deixa-nos rasto de morte.
         
          São dezenas, são milhares
          o mundo chora os que vão,
          são menos os familiares
          alguns faltam à reunião.

          Mas todos irão perguntar
          porque castigo tão grande?,
          o mundo tem tanto a pagar
          e o vírus ainda se expande.

          Já não há lugar na terra
          onde o vilão não chegou,
          hoje mais alguém se enterra
          por certo o vírus o levou.

          Mesmo que alguém no mundo
          pudesse antever o futuro,
          o mal que no vírus vem
          de certeza só via escuro.