Cruzeiro da Amêndoa

quarta-feira, 7 de setembro de 2022

Criança sozinha e triste
de olhar molhado e chora,
doutor passa, não resiste
porque choras tu cá fora?.

Eu vivo com muitas dores,
o que te dói, para chorar?,
dói-me a vida senhor doutor,
e o que fazes para a curar?.

Tento dormir e não consigo
tal é meu grande sofrimento,
minha mãe diz que é castigo
ou são dores de crescimento.

As pobres crianças do mundo
seu direito é o esquecimento,
que haja de vez grande estudo
e nos livrem de tal tormento.

Quando à noite ao escurecer
venho para aqui ver o luar,
faço o que eu já sei fazer
que é ver o céu para sonhar.

Naquele meu tempo de menino
deram-me um porco de barro,
mais um dinheiro pequenino
junta mais e compra um carro.

O meu porco era o meu banco
e a segurança para o futuro,
com meu cofre forte do campo
escondido bem dentro do muro.

Veio o dia da grande feira
e eu parti o meu porquinho,
comprei então uma carteira
para mostrar ao meu vizinho.

Está a ver, já sou crescido
eu tenho uma carteira nova,
o meu porco tinha engolido
eu o parti, e foi p'ra cova.

Mas hoje o porco é banqueiro
que explora e cria offshores,
trabalha com o nosso dinheiro
e são dele os lucros maiores.

Filho, lendo mais cresce cultura
e serás bem maior na sociedade,
o ler é saber e também aventura
e dá ao espírito mais liberdade.

Mais dinheiro faz o homem rico
pouco humilde e mais arrogante,
para os invejosos, é o maldito
mas será sempre o mau tolerante.

Diz-me também meu avô querido
algo que mais eu poderei fazer,
comer carne, peixe, pão de trigo
para ser grande e mais crescer?.

Querido, não é preciso ser grande
em tamanho ou também na altura,
a bondade e humildade se expande
e com um mais controlo na cultura.

Tudo o que é mau escreve na areia
porque o vento passa mas se apaga,
e naquela terra que é boa semeia
as memórias que teu coração afaga.

Aquele forte povo judeu
grande epopeia ele viveu,
sem qualquer terra de seu
desde que o Cristo morreu.

Dois mil anos se passaram
eles vagueiam pelo mundo,
e as suas contas saldaram
sempre servindo de escudo.

D João, nosso rei se casou
com linda Isabel por amores,
mas no contrato que assinou
carregar judeus de horrores.

Fugindo da grande Espanha
Portugal lhes deu abrigo,
mas a inquisição os apanha
e a batizarem-se os obriga.

Ao aceitarem ser batizados
ficaram sendo os marranos,
cristãos novos desprezados
mas não eram sequer humanos.

Nos locais mais escondidos
rezavam, liam suas orações,
onde os cristãos ofendidos
os queimavam em procissões.

O Papa já lhes pediu perdão
aos judeus pelo sofrimento,
mas a política e a religião
foi sempre um mau casamento.

São duros e têm defeitos
mas na cabeça têm a luz,
e nós não somos perfeitos
pois nem sequer o foi Jesus.

Ser maduro não é ser velho
maduro não é ter mais idade,
é o saber e dar um conselho
com mais respeito e amizade.

Conversar, mas não discutir
nunca em busca de vingança,
não gosta ou não quer ouvir
muda de chip sem lembrança.

Segue a sua vida, mas em paz
deixa para outros suas vidas,
esquece problemas para trás
e não vai abrir mais feridas.

Madurar é ter mais prudência
nas ações ou mais conselhos,
bem pensar ter mais ciência
para os novos que ouvem velhos.

Quando se é já um velhinho
que perdeu toda a confiança,
ele só espera mais carinho
volta aos tempos de criança.

Toda a gente me pergunta
como se eu fosse um bazar,
e mesmo um lugar de fruta
onde elas pudessem comprar.

Está por cá, já se formou
não a vejo há muito tempo,
a minha filha já se casou
está à espera dum rebento.

Não, ainda estou estudando
para eu me acabar de formar,
mas agora só estou viajando
neste espaço p'ra descansar.

O que lhe importa é parecer
e ser alguém muito admirado,
mesmo que ele seja a sofrer
sendo solteiro ou já casado.

Nesta terra, onde eu nasci
e por cá tenho a minha raiz,
eu gostava, mas nunca ouvi
e lá onde por mora, é feliz?

Linda abelha, minha amiga
como eu gosto de te ver,
deixaste longe teu abrigo
para das flores, mel fazer.

Sei que a tua vida é curta
serão dois meses apenas,
mas não abrandas na luta
ao colher coisas pequenas.

Para ter uma colher de mel
que eu besunto no meu pão,
deste abelha corpo e pele
em mil flores, peço perdão.

Bem sei que fazes pensando
em ter que comer no inverno,
mas os homens vão queimando
teres flores só no inferno.

Muito obrigado às abelhas
pela vossa grande lição,
mesmo debaixo das telhas
trabalham, não dizem não.