Cruzeiro da Amêndoa

segunda-feira, 31 de janeiro de 2022

No banco do jardim esta velhinha
olhando a multidão no vai e vem,
ela espreitando o sol ali sozinha
ouve uma pergunta; espera alguém?.

Eu aproveito esta brisa da manhã
olhando o movimento que aqui tem,
do futuro a minha esperança é vã
pois eu já não espero por ninguém.

Aprendi nos muitos anos de caminho
que ninguém é mais dono de ninguém,
nossos filhos a quem damos carinhos
serão os pais muito velhinhos também.

O ter alguma coisa, é grande ilusão,
pois todos nós formamos o universo,
tudo é passageiro e tudo é criação
porque tudo o que é novo envelhece.

O sol detrás da nuvem se escondeu
a velhinha voltou ao seu cantinho,
embrulhada em sua manta se aqueceu
pensando nos filhos, chora baixinho.

O jovem cresceu sozinho
sem referências morais,
não teve da mãe carinho
maus exemplos parentais.

Sua escola foi a ausência
e a rua era o seu abrigo,
dos furtos tinha a ciência
que aprendeu com seu amigo.

Seu país só produz pobres
e meia dúzia de doutores,
o bom ensino é dos nobres
e o que resta são labores.

Poderia o nosso ensino
preparar bem os serviços,
serralheiros ou campinos
ou fazedores de feitiços.

Na escola o que eu preciso
e melhores serviços presto,
estudar mais fazer pesquisa
respeitando e ser honesto.

Na vida o mais tolerante
é sempre o meu preferido,
pois aquele ser arrogante
não vai ser o bem sucedido.

Se o meu telhado desabar
mais tudo em redor ruir,
eu, pensarei se vou chorar
e com calma irei decidir.

Não desistirei de lutar
p'ra ter um dia melhor,
vou embora ou vou ficar
e procurar de novo o sol.

Mais importante na vida
é de saber bem decidir,
e se houver falsa partida
já não vale a pena fingir.

O decidir na hora certa
depois do bem planear,
é deixar a porta aberta
p'ra a nova vida começar.

Eu não me posso levantar
sem ter caído primeiro,
mas depois posso pensar
num caminho verdadeiro.

A criança é uma artista
nasceu e já sabe cantar,
o choro à primeira vista
são seus modos de falar.

O seu escrever é desenho
seus riscos fazem sentido,
só gosta do que é castanho
a cor do seu gato querido.

Ainda não anda, mas dança
com o seu corpito dengoso,
já fica de pé, mas balança
naquele rebolar amoroso.

Nasceu com a arte no corpo
e com a expressão natural,
se estiver direito ou torto
já é, o teatro experimental.

Mas no encanto do nascimento
é o grande mistério de amor,
provoca em nós conhecimento
com o mesmo perfume da flor.

Mais difícil ser amado
se for um ser indeciso,
ela sofre inconformada
ele com medo, pouco juízo.

Quando medroso se esconde
por ser p'ra ele assustador,
não vê um caminho por onde
possa declarar o seu amor.

Se está muito apaixonado
anda à roda, vai de volta,
sonha no momento adorado
dizer, gosto de ti Carlota.

Os fortes lá vão depois
e sabem aquilo que querem,
vou viver uma vida a dois
e se têm medo que esperem.

O conselho p'ros medrosos
nunca pares de acreditar,
ouve as falas dos idosos
diz para ti, eu quero amar.

Ser grande não dá direito
a olhar de cima p'ra baixo,
o ser pobre, ou por defeito
seja fêmea ou seja o macho.

Olha o outro ser humano
com respeito e humildade,
seja português ou cigano
merece a tua humanidade.

Baixa agora a tua altura
e ajuda quem está no chão,
vai com tua mão e segura
imita aquele bom cristão.

Olha qualquer ser humano
sempre de baixo p'ra cima,
seja qual for seu tamanho
em Portugal ou na China.

Tu hoje tens muitos bens
a sorte te deu bom ninho,
mas não olhes com desdém
quem nunca teve o carinho.

Eu ouvi já muita gente
falando belas palavras,
amarelo, branco cinzento
olhando, lindo me achavas.

Já me chamaram bondoso
com coração muito grande,
desconfio do ar de gozo
que do sorriso tresanda.

O que bonito me encanta
do caridoso eu desconfio,
o muito amigo me espanta
dos falsos eu me arrepio.

Ele fala e tudo promete
muitas vantagens p'ra mim,
mas se desconfio emudece
é falso, eu ponho-lhe fim.

Será aquela a mais bonita
que de todas sempre quero,
vindo de uma boca bendita
sentindo, ouvindo, sincero.