quarta-feira, 6 de maio de 2020

Abertura

             



           Eu hoje não vou lá estar
             a causa é o vírus maldito,
             pois não me deixam passar
             aqueles agentes de apito.

             Fui de fugida ao mercado
             comprar coisas p'ra comer,
             mas anda tudo mascarado
             e o vírus faz-nos tremer.

             Fugimos como os leprosos
             uns tapados outros não,
             com coragem mas medrosos
             que o vírus venha na mão.

             Vão começar lojas abrir
             e não pode haver beijinhos,
             muita gente volta a sorrir
             e deixar de estar sozinhos.
           
             No futebol eles vão jogar
             sozinhos sem ter mirones,
             rogo que não vão estragar
             mas a televisão te drones.

O Monstro Chinês

             




           Nas asas do morcego eu vivi
             do seu bom sangue eu bebi,
             mas o cutelo de um chinês
             separou o meu dono em três.

             Mas na asa aonde eu morava
             levou-me a senhora p'ra casa,
             e eu, para não me escaldar
             saltei para o seu respirar.

             Instalei-me na garganta
             e ela agora já não canta,
             e deixei lá minha semente
             dei salto p'ra muita gente.

             Viajei por todo o mundo
             espalhei vírus furibundo,    
             hoje sou invasor poderoso
             que venço o chefe teimoso.

             Ele não teme o meu valor
             por ser um pequeno invasor,
             mas do mal que vou fazer
             no fim se irá arrepender.

             Os mortos já são milhares
             pois destruí muitos lares,
                      vou percorrer meu deserto          
             voltar outra vez por certo.

             Mais forte e mais pujante
             renovado como o mutante,
             venho apagar tanta tristeza
             e respeitem mais a natureza.

sexta-feira, 24 de abril de 2020

Santa Cruz





Não há festa na aldeia
             triste o Senhor d'Agonia,
             não lhe acendem candeia
             e a culpa é da pandemia.


             As vilas estão isoladas
             ninguém as vai visitar,
             o vírus vai de mãos dadas
             com quem lá queira chegar.

             As pessoas que lá moram
             ficam tristes sem a festa,
             netos filhos que adoram
             por ser tudo que lhes resta.

             Seja o fogo ou pandemia
             já não é novo o sofrer,
             vamos manter a alegria
             não nos deixamos morrer.

             Feiras, festas casamentos
             juntam todos os compadres,
             lá se expressam sentimentos
             com jovens crianças comadres.

Domingo e Pandemia



Não podemos comemorar
             hoje, revolução de Abril,
             o vírus não vai deixar
             que nos possamos reunir


             Uma lei diz que não pode
             mas há quem diga que deve,
             se o vírus chegar sacode
             pois ele ataca ao de leve.

             Pergunto a esses senhores
             qual é o valor primeiro,
             mostrar nesse dia as flores
             ou dar trabalho ao coveiro.

             não me canso de admirar
             os valorosos militares,
             mas concordo em celebrar 
             com os santos nos altares.

             Celebrar bem nesta data
             em casa todos cantando,
             como um comando que ataca
             e ver o ditador afundando.

O Domingo da Francisca


A Francisca estuda em casa
             com as aulas tele-guiadas,
             colegas com quem brincava
             têm as aulas empacotadas.

             É estranho ouvir professor
             dar-me as lições no caixote,
             mas assim tem mais valor
             se eu passar e não se note.

             Já não vejo os meus amigos
             com quem na escola sentava,
             mais novos ou mais antigos 
             com eles eu sempre brincava.

             Mas este ano está no fim
             e ontem fui ver minha avó,
             tinha lá um cão p'ra mim
             p'ra eu não me sentir só.

             Brinquei muito com a Cinde
             nome que dei à cadelinha,
             e ao deixar que o dia finde
             também fui dela madrinha.

Mulheres de Hoje


No meu tempo de criança
            só os homens eram gente,
            em cultura ou segurança
            p'rá mulher não é decente.


Os homens em guerra lutam
            as mulheres se emanciparam,
            trabalho, estudos as juntam
            e algumas ainda se casaram.

            Já são grandes na ciência
            controlam bem os dinheiros,
            lutam contra a concorrência
            estão lá entre os primeiros.

            Ocupam os lugares cimeiros
            mas, eleitas pelo seu valor,
            homens em trabalho caseiro
            não lhes basta ser doutor.

            Elas também vão à guerra
            são policias ou marinheiras,
            já são generais em terra
            ou directoras financeiras.

O Nosso Abril


As chuvas no mês de Abril
            são bênção ao meu suspiro,
            livram-me do fumo fabril
            e lavam o ar que respiro.

            Dias grandes e inconstantes
            parece coisa sem controlo,
            ou vêm chuvas abundantes
            ou os longos raios de sol.

            As flores abrem esplendorosas
            e espalham no ar seu perfume,
            com a chuva as rosas vaidosas
            fecham-se e mostram ciume.

            Mas os Reis do mês de Abril
            do meu querido pais natal,
            não são filhós nem pernil
            são os cravos de Portugal.

            O Portugal país do fado
            tem braço dado com o mar,
            por dois continentes atado
            pelas flores quer respirar.