domingo, 5 de abril de 2020

Vírus do Século






Há três semanas na moldura
          já penso ser um retrato,
          mas é a forma mais segura
          de me defender do buraco.

          Vejo de longe um vizinho
          que passa com a boca tapada,
          sem falar, eu ando sozinho
          e não saio da minha morada.

          vai ser longo o isolamento
          e as mortes são aos milhares,
          dos que vão, fica um lamento
          que os velhos fiquem nos lares.

          Não se vislumbra um final
          deste castigo tão forte,
          nesta luta que é mortal
          que se estende até ao norte.

          Diz o Papa e com razão
          ninguém se salva sozinho,
          vamos todos dar a mão
          e salvar o nosso vizinho.

Vida Hoje




Já lá vão os quinze dias
          da quarentena obrigatória,
          estava certo o que dizia
          são muitos no crematório.

          Acordo ou vou-me deitar
          e de dia faço a limpeza,
          já me começo a cansar
          vou ter uma vela acesa.

          Ouço a rádio o dia inteiro
          com locutores a brincar,
          mas a intenção é primeiro
          para o meu moral levantar.

          Ainda o estão estudando
          as nossas mentes brilhantes,
          mas ele, muitos vai matando
          enganando os seus tratantes.
         
          Dizem que o homem é grande
          e o vírus coisa pequenina,
          que voa e no ar se expande
          sem o homem ter uma vacina.

2020 Negro




O longo isolamento não acaba
          maldito silêncio me assusta,
          estou numa gaiola fechada
          e o vírus matando gente justa.

          Avança pelo mundo como herói
          o vencedor não tem fronteiras,
          entra em cada corpo e o destrói
          tombando todas as barreiras.

          Não há Continente que o queira
          mas ele é forte e se instala,
          viaja e não precisa de cadeira
          vai de graça e não leva mala.     

          Sem defesas e remédio no avanço
          vai chegar até ao fim do mundo,
          ao findar talvez, no seu descanso
          Os humanos poderão tê-lo moribundo.

          Por certo merecemos tal castigo
          ao não respeitar nosso planeta,
          comemos tudo: até um fiel amigo
          destruímos tudo o que se aguenta.

terça-feira, 24 de março de 2020

A Peste




Longo retiro quarenteno
          e o pensamento não pára,
          vejo um mundo tão pequeno
          para um vírus que dispara. 
     
          Não há uma parede segura
          nem fronteira blindada,
          ele é já uma peste madura
          e é visita não convidada.

          Ele tem segredos estranhos
          e não diz de onde partiu,
          talvez de um rato ou aranha
          ou da cobra alem do rio.

          Dizem que cada cem anos
          a natureza faz razia,
          para fracos seres humanos
          com uma grande pandemia.

          Vamos todos dar as mãos
          e resistir ao invasor,
          esperar o próximo verão
          e sair desta luta vencedor.

Isolamento


Hoje, isolado oitavo dia
          ninguém passa nada mexe,
          nesta estranha pandemia
          fechou tudo até a creche.

          Não abro a boca p'ra ninguém
          nem falo para ela ouvir,
          para que alguém me ouça bem
          talvez tenha que usar funil.

          Onde moro:parece um deserto
          e quem passa olha de lado,
          nesta luta em campo aberto
          alguém vai estar infectado.

          As fronteiras estão fechadas
          não queremos mais turistas,
          vamos lavar bem as calçadas
          e dar férias aos fadistas.

          Pergunto ao mundo que sabe
          que estuda e pensa sereno,
          como é possível tal maldade 

          sendo um bicho tão pequeno.

O Retiro




Cacho de flores amarelas
          gozando o sol do meio dia,
          de trás das minhas janelas
          ouço da rádio a melodia.

          É neste meu cativeiro
          que fujo ao coronavírus,
          hoje não vem a padeira
          não vou ter seus sorrisos.

          Vai escasseando alimento
          os dois velhos improvisam,
          espinafres e couve do tempo
          do nosso jardim suavizam.

          Três Reis magos já chegaram
          da cidade com mais comida,
          bloqueio das compras furaram
          é gente forte e destemida.

          Nesta luta de gigantes
          os fracos vão de abalada,
          só ficam os mais pujantes
          que vão reerguer a paliçada.

Quarentena



Nos quinze dias isolado
         de todo barulho exterior,
         a causa, o vírus malvado
         que nos enche de pavor.

         De quarentena lhe chamam
         à vida que o vírus tem,
         filhos fora de quem amam
         e de quem gosta de alguém.

         Não me toques, porque pega
         afasta-te mais de mim,
         se sentires algo esfrega
         com creme de cheiro a jasmim.

         As comadres já não falam
         com medo dos perdigotos,
         as mais medrosas se calam
         pois já chegou a Marrocos.

         Esta praga dos cem anos
         vem avisar toda a gente,
         sejam brancos ou ciganos
         que a vida é água corrente.

         Com água se apaga o lume
         ser amado é ter mais sorte,
         amor grande é ter ciúme
         não há remédio p'ra morte.