segunda-feira, 17 de junho de 2019

O dia de Maio


             

                A chuva cai miudinha
                os pardais comem migalhas
                alguém espreita à janelinha
                como quem conduz batalhas.

                Crianças voltam da escola
                vergadas com muito peso,
                um deles vai chutando a bola
                mas sentem seu corpo preso.

                A liberdade é grande bem
                que todos temos direito,
                mas na vida só a tem
                quem souber tirar proveito.

                Minha esposa a tricotar
                e eu estou a ficar sem luz,
                começo a sentir mau estar
                e ela está já no ponto cruz.

                Bairro pobre, bairro rico
                contrasta em cada morada,
                alguns só têm carrito
                outros de alta cilindrada.

Dia da Mãe



             




               
Preparando o grande dia
a mãe pensa no que falta,
para ela, só há magia
se juntar cá toda a malta.

Alguns netos não virão
e falta cá estar o bebé,
ele só vai chegar no verão
e vamos comer o fricassé.

A mãe muito emocionada
abriu bem seu coração,
recordou história apaixonada
e casou com um rapagão.

A vida não foi só rosas
muitas paredes subimos,
mas com ajuda preciosa
nunca estivemos sozinhos.

Havendo um dia da mãe
nada vai ter mais valor,
mimar aquela de quem
todos temos mais amor.

Lar do Idoso


             



                Da colina eu velo o tejo
                antigo bairro de nobres,
                moro em lar que não desejo
                para mim, casa de pobres.
               
                Não são pobres de comer
                mas de ter a vida cheia,
                não me consigo entender
                por ter esta vida feia.

                Eu trabalhei toda a vida
                sonhando com um paraíso,
                resta alguma alma amiga
                se eu mantiver meu juízo.

                P'rós anos do fim da vida
                não vale a pena guardar,
                ter muita água e comida
                se não tiver quem beijar.

                É triste deixar minha cama
                onde eu dormi com calor,
                não tiver alguém quem ama,
                para mim, só falta o amor.

Festa de São Bento


               
               Tapetes feitos de flores
               nas ruas da procissão,
               com fatos de muitas cores
               mulheres de terço na mão.

               O mastro foi levantado
               pelos homens da aldeia,
               com muitas minis regado
               e alegria de mão cheia.

               Na capela que é pequena
               os que sobram ficam fora,
               em postura mais serena
               como quem a Deus implora.

               Por fim sai a procissão
               as mulheres lá vão cantando,
               o padre que é bom cristão
               ao benzer ele vai passando.

               Voltam por fim à capela
               e eu depressa me mando,
               deixando os santos co elas
               vou para a bicha do frango.

               Em mesas bem arrumadas
               vão-se ajeitando os casais,
               as vozes são sincopadas
               e repetem frases banais.

               Para a noite vem a dança
               com muito frango e cerveja,
               a velha dança e não cansa
               com esperança que alguém veja.

domingo, 21 de abril de 2019

Dia de Abril

         
         
           Hoje não me apetece ler
           meus olhos trocam as letras,
           não quero mas vou escrever
           meia dúzia de tretas.

           Escrever assim também me sai
           a escuridão dentro de mim,
           com mais tempo ela se vai
           e o meu sol, regressa assim.

           Dia confuso este de Abril
           nem faz sol, nem vai chover,
           vou esforçar-me e ser gentil
           mas, não me consigo entender.

           Muito admiro os meus heróis
           que contra o escuro vão,
           eles são para mim os faróis
           que abatem a superstição.

           Com os esforçados famosos
           se alargam os conhecimentos,
           mas, com pagas bem dolorosas
           lhes fizemos os pagamentos.

Pássaros

         
           
           Ao abrir minha janela
           depois de noite chuvosa,
           no jardim rosa amarela
           com pingos de água vaidosa.

           Um passarinho interessado
           espera a minha toalha,
           pensando no pão torrado
           talvez das sobras migalha.

           Mais passarinhos esperam
           pelos restos do meu pão,
           andam, voam outros saltam
           picando migalhas no chão.

           Esperam a dona da casa
           porque ela lhes dá comer,
           picam cantam abrem asa
           pois lhe estão agradecer.

           Pássaros são seres inocentes
           sejam pombos ou pardais,
           morrem sós, se estão doentes
           nós, não ouvimos seus aís.

O meu amigo

         
           O Zé passou na taberna
           cheio de força não entrou,
           mas acendeu-se uma lanterna
           voltou atrás e emborcou.

           Relação com a pinga é de carinho
           amável sempre pronto a aconchegar,
           amigo de sempre este meu vinho
           quando bebo só me apetece cantar.

           O Deus que inventou o vinho
           por certo pensou em mim,
           nunca me sinto sozinho
           é bom ter um amigo assim.

           Ele dá vida a quem o ama
           e dá prazer a quem o bebe,
           o vinho, dorme comigo na cama
           e faz a vida ser mais leve.

           O vinho é a minha fantasia
           e quando ele falta me dói,
           é a minha fonte de alegria
           mas, por dentro me destrói.