Cruzeiro da Amêndoa

segunda-feira, 6 de janeiro de 2025

Tarde de domingo chuvoso
a nostalgia não me larga,
lá fora estado invernoso
o que adensa a minha saga.

Estou preso pelo coração
e sem poder sair de casa,
ouço lá no céu um trovão
com o relâmpago em brasa.

Lutas que estão passando
entre o ser e a natureza,
enquanto triste pensando
ao ver chover tem beleza.

Por certo eu estarei mal
de orgãos mal calibrados,
não aceito este vendaval
nem tal chuva dos diabos.

Sendo um ser já calejado
fico feliz ao ver chover,
dizer aos céus, obrigado
pois a chuva dá-nos comer.

Há quem cresça na infância
outros só na adolescência,
não só crescer é de criança
o adulto cresce em ciência.

Não há porém tempo certo
no adquirir conhecimento,
se tiver saber por perto
cedo terá seu crescimento.

Não perca seu tempo porém
para crescer no seu saber,
e quiser chegar mais além
mesmo o idoso vai crescer.

Sábios crescem mais cedo
seu menos tempo acumular,
avançam à frente sem medo
e por fim nos deslumbrar.

Ainda estamos por saber
origem de um ser humano,
noutros mundos há viver
e se houver não estranho.

O que me acontece não faz
de mim quem eu não seja,
pois o percurso se desfaz
porque, dele nada sobeja.

Nasci já com um caminho
mas serei o que quero ser,
como essa vela dum moinho
foge depois volta aparecer.

O caminho que eu escolher
é reforçado pela vontade,
será nele que irei correr
esta é a minha identidade.

Pode haver outros desvios
e caminhos não procurados,
de provocações e desafios
e eu tenho meus registados.

Quem nasce já tem no peito
tal linha como um seu guia,
e só por ela terá respeito
fugir-lhe não conseguiria.

Quando o teu ouro oxida
por certo não será ouro,
e pensa bem na tua vida
não te garante tesouro.

Igual se teu amor acaba
não é o amor com certeza,
mas sim ar dessa lufada
deixou de ser luz acesa.

Esses amigos que tinhas
viram-te costas e lá vão,
pensa melhor e advinhas
não era o teu amigo, não.

Não chores por abandono
disse, foi e não volta,
ele não merece ser dono
nem sequer da tua bota.

Tudo num princípio tem
o tempo de experiência,
e vendo que não convém
se falta a consistência.

Deixa-te de ficar triste
levanta a cabeça e olha,
à tua volta, mas resiste
e volta chuva que molha.

Nesta badalada dos sinos
na torre da nossa igreja,
aos meus ouvidos são hinos
lindos brincos de cereja.

Manhã de um Janeiro frio
com sol brilhando sereno,
recordo os dias de estio
nos campos juntando feno.

Ar sereno, vindo do norte
trás-nos o cheiro da neve,
afasta as visões da morte
no mundo em momento breve.

Sendo o mundo tão bonito
e tudo nos dá p'ra viver,
há entre nós esse maldito
que goza a ver-nos morrer.

Vamos fazer esse esforço
produzindo um homem bom,
aos infelizes um reforço
dar aos maus o mesmo tom.

Eu admiro quem divide
o seu pão por outro ser,
e a quem, outro convide
p'ra sua mesa vir comer.

Passar seu conhecimento
para o bem da sociedade,
é esse nobre sentimento
colaborares com verdade.

Dividir e espalhar amor
acarinhar os desvalidos,
ceder metade do cobertor
aos pobres desconhecidos.

Aos colegas de trabalho
transmitir conhecimento,
aos sem casa o agasalho
que ajuda nesse momento.

O ser generoso é virtude
de um ser humano de bem,
mas o passar à juventude
eles depois farão também.

Por seres humilde, não és
menos que a outra pessoa,
mas sim da cabeça aos pés
não és uma cabeça à toa.

Reconheces tua humildade
mas és uma pessoa de bem,
queres viver pela verdade
não és maior que ninguém.

Ser humilde é qualidade
sem haver a humilhação,
só se lhe compara a bondade
e feita sem a obrigação.

Um prepotente te comanda
e o mais humilde obedece,
mas se no futuro desanda
humilde nunca te esquece.

Ao ser humilde e seguro
e respeito sem machucar,
tem por certo no futuro
não se deixando enganar.