Cruzeiro da Amêndoa

domingo, 17 de novembro de 2024

Aos 'esses' sai da taberna
e se vai sentar ao sol,
com esse momento alterna
a sua carcaça ainda mole.

Ele olha a mão e esfrega
tirando o pó da carcaça,
pensa meu pedaço carrega
tristeza com a sua massa.

Podia ter outro destino
este lindo grão de trigo,
sendo a oferta do divino
eu com esforço o mastigo.

Este trigo com mais sorte
no campo cheio de beleza,
com um dono mais a norte
não era pão, mas cerveja.

Nessa grande taça dourada
a tua sorte era brilhante,
com a minha alma consolada
mais o meu pensar viajante.

Meu corpo tem cicatrizes
e algumas não têm trato,
são os momentos infelizes
ficaram deles um retrato.

As cicatrizes duma emoção
gravadas cá no profundo,
elas nunca mais deixarão
de morar cá no meu fundo.

Causam-me ainda tristeza
se por vezes nelas penso,
trato-as com a delicadeza
tendo na paz a recompensa.

Tenho essa linda cicatriz
dádiva do meu divino Deus,
o umbigo que foi tal raiz
mangueira me liga aos céus.

Num céu que foi minha mãe
que por esse tubo me criou,
e nessa cicatriz se mantém
o menino que a mãe amou.

Todos temos nossos direitos
porque somos seres humanos,
a desorganização e defeitos
e mortos em casos estranhos.

Não é para isto que eu voto
mas elegendo alguém melhor,
porque mal já vem do remoto
talvez a incompetência maior.

Que sociedade nós queremos
com mais paz, menos guerra,
mas se segurança não temos
o Inem em greve se encerra.

Guardas, polícias e médicos
com os indefesos morrendo,
mudam os votos dos céticos
novos ditadores aparecendo.

O mundo, vai dando sinais
da revolta dos inocentes,
o Trump e outros que tais
vão animando os descrentes.

Lindo menino triste voltava
da escolinha ao fim do dia,
lá em casa sua mãe ajudava
nos trabalhos que ele trazia.

No outro dia quando voltou
para a sua escola ia feliz,
seus trabalhos feitos levou
mais senhor do seu nariz.

Passaram já algumas semanas
quando menino volta triste,
- Que se passa? Não me enganas!
diz-lhe a mãe e ele resiste.

- Será que alguém já descobrira
que eu te ajudo nos deveres,
pois eu, só te sirvo de guia
falando p´ra tu escreveres.

- Tua professora já desconfia
que eu te ajudo, meu anjinho?
- Sim, porque ontem ela dizia:
Impossível, é errar sozinho.

Eu não quero ser inocente
ao apontar, isso é errado,
quantas vezes essa gente
fica bem melhor instalado.

Para fazer essas divisões
alguém tem a melhor parte,
no mundo real sem ilusões
pois apliquei a minha arte.

Porque é este o mundo real
pois não sejamos inocentes,
o melhor é meu o teu é mal
nós somos pessoas decentes.

Ele já subiu muito na vida
nessa escada com elevador,
mas base foi mal dividida
e alguém sofreu nessa dor.

Depois ao atingir seu ideal
esse bom lugar lhe satisfaz,
mas nesse seu imenso lodaçal
ele não mais vai sentir paz.

Na estrada da vida andou
mas de nada tem a temer,
pois a sua luz iluminou
outro triste a não sofrer.

Na noite escura de alguém
a tua luz deu claridade,
és quem sofre, quem tem
o coração cheio de bondade.

Por teres feito a boa ação
é para todos um bom sinal,
prova tu não viveste em vão
e aos outros não queres mal.

Fazer bem não te arrependas
e ajuda sempre quem precisa,
guarda para ti, tuas rendas
e aos pobres dá-lhes a camisa.

Na vaidade em ser mais rico
essa tua nobreza esmorece,
com a melhor parte eu fico
pois o pobre triste obedece.

Dos afazeres cá de casa
luto com falta de jeito,
pela educação, me atrasa
e hoje tem que ser feito.

O mundo sempre evoluindo
nesse movimento dinâmico,
nesta idade estou caindo
pelo este motor mecânico.

Tenho já peças p'ra mudar
pela rotação de uma vida,
pois já cansadas de rolar
merecem a forte despedida.

Ao acrescentar mais um dia
no meu já longo calendário,
tento pensar mais a poesia
deste muito longo calvário.

Tenho ajuda dos meus filhos
e também dos queridos netos,
vão-me resolvendo sarilhos
e sempre com braços abertos.