Cruzeiro da Amêndoa

quinta-feira, 12 de setembro de 2024

Filho de nobre Visigodo
Pelágio foi nosso herói,
nas serras do povo godo
um novo mundo constrói.

Guadalete foi a desgraça
os exilou nas montanhas,
mas Covadonga ultrapassa
os muçulmanos de manhas.

Do início à reconquista
e ali fundou a dinastia,
Vimara Peres administra
o povoamento é seu guia.

Instalou-se em Guimarães
no Condado Portucalense,
foi berço de muitas mães
filhos e netos pertence.

Ali nasceu nosso Portugal
espaço entre mar e terra,
de Espanha vem bem ou mal
amores e também a guerra.

Um novo bom conquistador
ali nasceu como herdeiro,
Afonso Henriques lutador
de Portugal o primeiro.

A dona Engrácia tagarela
falar para ela é delícia,
tem sempre o mote com ela
ao falar com a tia Alícia.

Em certa conversa animada
cheia com seus mexericos,
Alícia, no seu tom gozada
lança à comadre seu isco.

- A comadre que tanto sabe
diga-me qual opinião sua,
o mais perto é na verdade
o Algarve ou a Lua?

Engrácia que não esperava
pergunta tão erudita,
mas de pronto assim falava
para a Alícia expedita.

- Sim! A minha resposta é clara
e minha comadre tem a chave,
porque a Lua está na sua cara
e na comadre, não ví o Algarve!

O Francisco da Tendinha
está em baixo e triste,
por fracassar sua linha
esmoreceu e não insiste.

Nesta vida em que vivemos
seja ela curta ou comprida,
e muitos erros nós fazemos
desde a chegada à partida.

Mas eu direi que o falhar
não é o sinal de fracasso,
mas o não voltar a tentar
só por desleixo ou cansaço.

Sim, esse é um erro maior
parar, mas não prosseguir,
pensar, pois também o sol
cai no mar e volta a subir.

Só vencem os persistentes
e aprendem com a derrota,
estudam, cerram os dentes
mais fortes estão de volta.

Hoje é meu dia de cair
no tédio do pensador,
não vejo forma de sair
olhos molhados com dor.

Também será o dia feliz
todos meus filhos estão,
eu vou levantar o nariz
dar chama a meu coração.

É mais fácil aconselhar
a alguém estar animado,
lançando risos p'ró ar
com carinho, mas educado.

Mais triste viver sozinho
sem ter alguém para ouvir,
é aquele pobre passarinho
sem ter seu ninho para ir.

Deus fez homem e mulher
e deles nasceu novo ser,
maus momentos tu tiveres
tua metade faz esquecer.

Por eu gostar da natureza
trato bem os passarinhos,
voando, eles são a beleza
amando e criando os filhos.

No meu quintal dou-lhe pão
e de manhã esperam por mim,
os pardais são um turbilhão
eu gosto de os ver assim.

Também vem um casal de rolas
que sem medo enchem o papo,
os pardais esperam esmola
dos restos para o seu saco.

Vêm os pássaros diferentes
por vezes de lindas cores,
bebem água em dias quentes
afinam sua voz de cantores.

Moscas, vespas e caracóis
formigas, abelhas, lagartixas,
o meu quintal tem emoções
entre cantares e carícias.

Porque a idade não perdoa
é o que estou vendo agora,
tirei o talão que não voa
tinha-o na mão, foi embora.

Eu não encontro explicação
porque só pode ser magia,
tirei-o pois tinha-o na mão
olho em volta, está vazia.

Por certo ninguém o levou
não vejo alguém por perto,
penso e concentrado estou
pois alguém é mais esperto.

Era o meu talão do banco
do diário da minha conta,
sumiu-se por meu espanto,
a minha inércia desponta.

Eu já não tenho volta a dar
o caminho é sempre à frente,
mas ainda vejo alguns passar
e não sou eu, fico contente.

Um homem que ali rasteja
quando tu vais a passar,
muito ignorante que seja
tem algo p'ra te ensinar.

Com um passado diferente
pelo seu caminho errante,
os saberes da outra gente
mais sofrimento gritante.

Tu estás em plano superior
pois, já pensas tudo saber,
mesmo o teu grau de doutor
tens sempre algo aprender.

Ninguém irá saber de tudo
tão longo é esse caminho,
o saber mais te dá canudo
já me dizia meu avôzinho.

Nem tudo nós, todos sabemos
com o que há para descobrir,
e neste tempo em que vivemos
outras portas se irão abrir.