Cruzeiro da Amêndoa

domingo, 24 de setembro de 2023

Gigante de vinte andares
foi construído na serra,
lá sozinho sem ter pares
sem luta perdeu a guerra.

Já lá vão quarenta anos
inacabado e ficou morto,
com a ferrugem nos canos
chamam-lhe o prédio torto.

O pai foi o velho Sócrates
arquiteto muito confiante,
seu filho lhe deu má sorte
fujiu dinheiro de rompante.

Mas porque Covilhã renasceu
pujante e com o novo fulgor,
mais dois pisos ele mereceu
e junto dois de sete vão por.

Fica assim mais acompanhado
essa torre alta da Estrela,
com o arquiteto desculpado
por lhe ter servido de telha.

Tem mais cuidado ao falar
pensa bem aquilo que dizes,
se uma criança te escutar
faz disso as suas matrizes.

Essa criança é uma esponja
que em volta tudo absorve,
dos maus gestos ou lisonja
tudo o que ouve lhe ocorre.

Insultos ou um mau feitio
eles fixam no seu registo,
vão aplicar, mas com brio
para que sejam bem visto.

Na escola aprendem a ler
escrever e também pensar,
mas a educação é um dever
que só se aprende no lar.

Peço a nossos dirigentes
para quem dou o meu voto,
sendo educação a semente
não a ponham no saco roto.

No meu tempo de criança
não tinha brinquedo não,
pais que tinham finança
já tinha um Bebé chorão.

Boneco de mole borracha
mas sempre no masculino,
sem ossos ele esborracha
nas zangas do seu menino.

Depois nasceu a tal Barbi
elegante o charme destila,
saia curta mas muito sexy
a casa, com quarto mobila.

Mas as meninas na escola
são chamadas de cavalonas,
ginastas mas jogam à bola
elas lhe chamam matrafonas.

E chamam burras às loiras
que só procuram casamento,
eles vêm princesas moiras
e descobriram seu talento.

Na luta pela emancipação
e dos negros à liberdade,
perdeu-se um Bebé chorão
trouxe às mulheres verdade.

Belo palacete da Celinha
rodeada de muito carinho,
lá em casa tudo brilha
dizem, ela vai ter filho.

Seu avô, um velho Barão
vai fazer festa na serra,
quer criar o novo Brazão
pró novo dono da terra.

Vem a parteira da Cidade
quando nascer tal menino,
e vão fazer mais caridade
pra escolha de nome fino.
´

Também a pobre Inocência
filha deste novo caseiro,
vai receber consequência
da aventura com o padeiro.
´

Como é rica tem nome fino
a pobre seu nome é grosso,
a rica vai ter seu menino
mas a pobre pariu um moço.

Nunca guardei um tostão
chapa ganha, chapa gasta,
o ser rico é uma ilusão
beber uns copos me basta.

Fiz meu poiso na Dinamarca
por não querer ser militar,
se tu não fugires embarca
para má guerra além do mar.

Limpei quartos num hotel
e à noite, tocava Jazz,
ouvia essa música de Brel
até que eu mudei de fase.

Cantei nas ruas de Paris
no metro e nas esplanadas,
chutei as drogas de raiz
loucas noites embriagadas.

Eu tenho a alma da cidade
Paris, foco luz brilhante,
onde eu senti a liberdade
de uma ascensão empolgante.

Depois de correr o mundo
voltei ao meu Portugal,
o guincho e mar profundo
faz pensar, que sou real.

Sê autor da tua história
domina os teus problemas,
não deixes a tua memória
pegada a causas pequenas.

Não tenhas o medo de ti
marca bem o teu caminho,
porque tu a andar assim
nunca vais viver sozinho.

Fala mas sem receio de ti
e mostra teus sentimentos,
porque tu és mesmo assim
tens os teus merecimentos.

Nunca queiras ser a vítima
de teus próprios embaraços,
dominas essa causa íntima
tudo resolve dando abraços.

Abre o teu coração ao mundo
mas aceita tudo o que tens,
tu não precisas latifúndio
bastam mais alguns vinténs.

Naquele coração da mãe
nunca sei o que lá cabe,
não vejo que espaço tem
pois não diz só ela sabe.

Porque esse amor é mental
é expresso naquilo que faz,
sente-se, ele é emocional
ela guarda isso a satisfaz.

Mas o coração vai crescendo
quando chegam seus netinhos,
todos cabem pois vai dizendo
juntos eles estão quentinhos.

O coração da mãe é estranho
estica-se mais ao ser avó,
vai aumentando seu tamanho
quando também já é bisavó.

Sentimos das mães a doçura
no querido colo abençoado,
dos avós temos essa ternura
pois tudo nos foi perdoado.