Cruzeiro da Amêndoa

sexta-feira, 7 de abril de 2023

Penso, já não estás junto de mim,
passando a tua mão no meu cabelo
olhando os meus olhos com desvelo
não me movo mas continuando assim.

Eu penso vou sonhando junto dela,
falando devagar mexendo os dedos
vai assim afastando os meus medos
mas fico mais forte pensando nela.

Já ninguém me diz leva o agasalho,
porque ao regressares estará frio
por essa falta eu já sinto vazio
isso me dá insegurança no trabalho.

No dia inteiro já ninguém me liga,
e meu celular tocava a cada hora
deixei de ter pressa em ir embora
e recordo no regresso a voz amiga.

Ao chegar a casa ao fim de um dia,
não ouço essa pergunta no jantar
come filho e depois vai descançar
mas vejo uma sua cadeira já vazia.

Um certo Alexandre Reis
escreve artigo no jornal,
ataca as meninas hábeis
da apresentação nacional.

Uma tem braços com estrias
e a outra está muito gorda,
as corridas que antes fazia
e por certo só come açorda.

Ele elogia só algumas damas
e diz, frequentam o ginásio,
elas fingem-se de estranhas
porque não leram o prefácio.

Uma já tem braços de velha
a outra tem quilos a mais,
mas tu alarga mais a fivela
nas calças já não cabe mais.

Não te metas com os modelos
da beleza do nosso Portugal,
elas fazem as nossas novelas
e nós esquecermos todo o mal.

Ao escrever tudo que pensas
sem respeitar as mulheres,
por certo tu não dispensas
comer uma sopa sem colheres.

Conheces bem outras pessoas
és por certo bem inteligente,
não vives neste mundo à toa
com bom coração, sorridente.

Tu serás esse ser iluminado
quando te conheceres a ti,
aceitares se és mal formado
melhorares não viver assim.

Ao venceres o outro és forte
também por certo convencido,
mas tu terás o outro suporte
quando venceres o teu ruido.

Mas o teu grande adversário
é esse teu próprio egoísmo,
vence primeiro teu calvário
senão tu vais cair no abismo.

Quem vencer os seus defeitos
vai ser uma pessoa brilhante,
ficará quási um ser perfeito
amável, de sorriso cativante.

Os pobres formam grande rio
que estanca a sede na terra,
mas constroem no tempo frio
ainda são a carne da guerra.

Eles construíram as pirâmides
como essas grandes catedrais,
hoje todos nós somos unânimes
sem eles, já não haveria mais.

Nos pobres está a mão de obra
que essas moedas vão pagando,
quando alguém as tem de sobra
aos pobres as vão mandando.

Jesus Cristo disse aos ricos
deem tudo aos que são pobres,
por eles que eu me sacrifico
pois hajam ricos mais nobres.

Mas quando todos ricos já são
sem os pobres para trabalhar,
não vale ter o dinheiro na mão
pois já não tem a quem mandar.

No nascimento foram como animais
eles cresceram muito sofrendo,
milhões morrem são fracos demais
mas nós estamos cá sobrevivendo.

Como os animais vamos aprendendo
e comendo aquilo que temos à mão,
nas grutas e cavernas escondendo
e comendo por vezes animal irmão.

Os milhões de anos vão passando
e o homem cerebral vai evoluindo,
grandes sociedades se vão formando
matam-se uns, outros destruindo.

Já foi possível voar como as aves
e nadar nos mares como os peixes,
viver nos prédios deixando caves
no fundo do mar, ai não me deixes.

Tudo homens de hoje são capazes
e sempre crescendo com evolução,
mas o viver em paz são incapazes
respeitando e ajudando seu irmão.

Não, eu não penso ir por aí
esse caminho eu não quero,
já maior e mais amadurecido
mas da vida sei o que espero.

Vou aprender a dizer que não
mas sei que não é fácil fazer,
estou pronto pedindo o perdão
se nesse caminho eu me perder.

Não quero, não posso, não estou
mas desagrado a todo o mundo,
para servir de mola eu não vou
nem a branquear esse teu fundo.

Ao dizer não é ter a coragem
mas tem outras consequências,
porque obriga a nova paragem
e um repensar de consciências.

Se a tudo eu disser que sim
é certo vou deixar de pensar,
porque estou pensando em mim
e também vos deixo de ajudar.

Quem me dera que eu fosse o pó
do caminho onde o pobre passa,
pisando por esses trilhos sem dó
tal como a sua fome é a desgraça.

Quem me dera ser aquele sujo rio
ensaboado pelas lindas lavadeiras,
e levar aos solos do seu plantio
agricultores fazendo estrumeiras.

Quem me dera ser o lindo choupo
que vive do rio vivendo à beira,
comendo as imundices como louco
em cima, céu, estrelas de primeira.

Quem me dera ser burro de moleiro
que carrega para a vila todo o pão,
mas à noite a ração é por inteiro
e dorme livremente em seu colchão.

O pior é ter atravessado sua vida
mas só no fim para trás ter olhado,
revendo no passado e pena sentida
por tudo o que fizeste ser errado.