Cruzeiro da Amêndoa

domingo, 2 de abril de 2023

No nascimento foram como animais
eles cresceram muito sofrendo,
milhões morrem são fracos demais
mas nós estamos cá sobrevivendo.

Como os animais vamos aprendendo
e comendo aquilo que temos à mão,
nas grutas e cavernas escondendo
e comendo por vezes animal irmão.

Os milhões de anos vão passando
e o homem cerebral vai evoluindo,
grandes sociedades se vão formando
matam-se uns, outros destruindo.

Já foi possível voar como as aves
e nadar nos mares como os peixes,
viver nos prédios deixando caves
no fundo do mar, ai não me deixes.

Tudo homens de hoje são capazes
e sempre crescendo com evolução,
mas o viver em paz são incapazes
respeitando e ajudando seu irmão.

Não, eu não penso ir por aí
esse caminho eu não quero,
já maior e mais amadurecido
mas da vida sei o que espero.

Vou aprender a dizer que não
mas sei que não é fácil fazer,
estou pronto pedindo o perdão
se nesse caminho eu me perder.

Não quero, não posso, não estou
mas desagrado a todo o mundo,
para servir de mola eu não vou
nem a branquear esse teu fundo.

Ao dizer não é ter a coragem
mas tem outras consequências,
porque obriga a nova paragem
e um repensar de consciências.

Se a tudo eu disser que sim
é certo vou deixar de pensar,
porque estou pensando em mim
e também vos deixo de ajudar.

Quem me dera que eu fosse o pó
do caminho onde o pobre passa,
pisando por esses trilhos sem dó
tal como a sua fome é a desgraça.

Quem me dera ser aquele sujo rio
ensaboado pelas lindas lavadeiras,
e levar aos solos do seu plantio
agricultores fazendo estrumeiras.

Quem me dera ser o lindo choupo
que vive do rio vivendo à beira,
comendo as imundices como louco
em cima, céu, estrelas de primeira.

Quem me dera ser burro de moleiro
que carrega para a vila todo o pão,
mas à noite a ração é por inteiro
e dorme livremente em seu colchão.

O pior é ter atravessado sua vida
mas só no fim para trás ter olhado,
revendo no passado e pena sentida
por tudo o que fizeste ser errado.

Gosto de cantar estando sozinha
dormir mas ocupando toda a cama,
falar quando saio p'ra vizinha
livremente suspirar pelo que ama.

Gosto a meio da noite vir comer
e aos domingos eu não cozinhar,
haver um dia não ter que o fazer
e com amigas ir lá fora almoçar.

Gosto de dançar por toda a casa
de ver meus programas favoritos,
relembrar dos dias que namorava
experimentar nas orelhas brincos.

Gosto do cheiro a café da manhã
andar descalça pelo meu jardim,
ver a flor crescer de uma maçã
respirar o suave aroma do jasmim.

Este viver sozinha, não é solidão
mas sim o conservar das amizades,
ter amigos, o respeito e educação
esta sim é toda a minha liberdade.

Elas são um exército colossal
das mulheres para se afirmar,
mas o seu saber provoca o mal
ao fazer alguns homens baixar.

As mulheres têm que se impor
são humanas com seus direitos,
muitos homens elas irão repor
e os substituem sem defeitos.

Não está certo que uma mulher
só tenha sua vida em casando,
mas ter aquela vida que quer
do seu destino ter o comando.

Precisam duma maior autonomia
conduzindo melhor seu destino,
para na vida ter essa alegria
e escolher melhor seu caminho.

Mulher, não é ramo na corrente
dessa árvore que caiu no chão,
em busca daquele homem carente
para por fim ter seu ganha pão.

Três amigos, já pingados
bebiam na tasca do tio Zé,
falavam dos antepassados:
- O meu avô fez a Arca de Noé!

Mas o Tiago é jardineiro
e como num sonho acordou,
- O meu avô foi o primeiro
o jardim de Éden plantou!

O mais novo desses amigos
profissão de eletricista,
pensou bem em seus antigos
e da sua mente saiu faísca.

O Deus disse:- Faça-se luz!
tudo estava em escuridão,
e quem pensam que a conduz?
- O meu avô fez a instalação!

Há sempre alguém que supera
em todos os nossos limites,
novas técnicas em nova era
e não devemos ficar tristes.

Numa pedra alta da serra
em lapa dentro da fraga,
cai gota de água na terra
junta-se outra, é recarga.

Mas às duas se juntam mais
e vão correndo pelos campos,
pedras terras e os lamaçais
outras espreitam nos cantos.

Seu corpo cresce e é forte
mas vai procurar a sua mãe,
a ribeira que vem do norte
pois se abraça a ela também.

Mais vigoroso e independente
segue em frente seu caminho,
recebe ainda mais um afluente
agora é mais forte e sozinho.

O rio vai saciando os campos
mas sempre pronto p'ra lutar,
banha os jardins de encantos
chegou e abraça por fim o mar.