Cruzeiro da Amêndoa

domingo, 5 de março de 2023

Um avião de cem milhões
lança a bomba de milhão,
junta maldade a canhões
mata quem ganha um tostão.

A guerra não tem sentido
porque mata os inocentes,
deixa milhões sem abrigo
e milhares ficam doentes.

Com essa ambição desmedida
crescendo dentro de alguém,
tem lá na terra prometida
todo nosso desprezo e desdém.

Glorificamos quem desbrava
mais saber e conhecimento,
maldizemos a quem destrava
tudo que há mal no talento.

Tantas mentes há distorcidas
com as muitas maldades feitas,
de milhões as crianças aflitas
muitas boas pessoas desfeitas.

Manhã de Sol, manhã de Março
traz ventos varridos do norte,
Primavera devagar com abraço
ar frio vem da serra é forte.

Traz a marca da serra gelada
onde purifica males do mundo,
filtra a natureza contaminada
dum ressuscitado sono profundo.

A raiva adormecida, mau perder
torna forte a mente do ditador,
o apoio de dinossauros crescer
já pensa ser um novo imperador.

Não pensa em milhares estropiados
nem dos que por ele deram a vida,
milhões em fuga, e já refugiados
procuram noutro sítio uma guarida.

Vem ventinho bom purificado no mar
mas areja também essa cabeça tonta,
ensina seus neurónios palavra amar
deixa de matar inocentes sem conta.

Quando um ignorante fala
sabe tudo aquilo que diz,
nada ouve, e não se cala
nunca lhe cresceu o nariz.

O inteligente fala pouco
está atento mas ouve bem,
p'rás asneiras está mouco
e ele nunca acusa ninguém.

O sábio? Ele não sabe nada
trancado em seus pensamentos,
mantém sempre a boca fechada
até mostrar os seus talentos.

O imbecil? Esse sabe tudo
só que não sai nada certo,
ele já viajou em todo mundo
andou sempre ali por perto.

Muito fala e pouco acerta
dito de um povo experiente,
é sempre uma mente deserta
e tudo lhe sai por acidente.

Os animais vão em carreira
sempre seu guia na frente,
eles buscam a nova lameira
que lhes dê comer ao dente.

Eles dão lições aos humanos
para a escolha do seu guia,
não aos votos e sem enganos
o vão eleger e nele confiam.

Será aquele mais inteligente
também que melhor os defenda,
ele é muito forte e competente
que aos mais fracos ele atenda.

Sem partidos que nos imponham
os mentecaptos ou seus pavões,
o mais natural é que escolham
para guia, melhores guardiões.

Vamos fazer um grande esforço
para aprender com os animais,
não queremos mais geringonças
porque nos dividem ainda mais.

Num dia primeiro de Julho
desse ano já não recente,
sexto neto, nosso orgulho
mora longe e está ausente.

É um estudante em cinema
naquela culta Inglaterra,
e visitou-nos esta semana
fugindo um pouco da guerra.

Trouxe com ele a Rosário
companheira inseparável,
com ela, não é solitário
fazem o casal formidável.

Ele volta já segunda-feira
pois veio matar saudades,
não interrompe a carreira
também mantém as amizades.

Este lindo nome o de Vasco
que nos honra como humano,
no seu humor, eu me atasco
mas como avô não é estranho.

Vai, vai meu querido neto
desbrava o mundo cinzento,
avança e sobe até ao teto
não percas mais um momento.

A professora em sua aula
diz que gosta de animais,
chama à sua gata a Paula
e quando lhe grita dá aís.

Seu cãozinho é perdigueiro
tem aquele cheiro apurado,
não pode ir ao galinheiro
se vai fica tudo apavorado.

Tem dois melros na gaiola
são negros de bico amarelo,
e dão saltos como uma mola
em busca de um bom farelo.

Tenho ainda uma tartaruga
que passa seu tempo ao sol,
ela vai esperando pela muda
da sua carapaça ainda mole.

- Porque as galinhas chocam?
digam-me quais as razões
Paulinho, elas se esforçam
mas não têm lá travões.

Sou o homem feito de barro
por ser da primeira camada,
junta a água, ver se agarra
depois de ser bem amassada.

Serei sempre homem de areia
nada eu farei p'ra ser cobre,
milhões de humanos à tareia

para poderem chegar a nobre.

Quanto aos nobres em disputa
nos seus cadeirões de couro,
como esses reizinhos em luta
para poderem vestir de ouro.

Também esses pobres humanos
se rodeiam de ouro e prata,
por vezes eles são desumanos
quando por fim usam gravata.

No seio da nossa santa igreja
ouro que brilha atrás do véu,
para que toda a gente o veja
sempre o transparente do céu.

Apareceu-nos Papa Francisco
deixa o ouro e quer madeira,
lembra-nos que Jesus Cristo
nasceu numa pobre manjedoura.