Cruzeiro da Amêndoa

sábado, 25 de fevereiro de 2023

Já passou o dia de Carnaval
e o tempo voltou a sorrir,
espero, tenham lavado o mal
e a felicidade volte a vir.

Os foliões não descansaram
mais as matrafonas descaradas,
e as meninas muito dançaram
algumas muito bem descascadas.

Deitaram fora as desgraças
ficou tudo em limpa gente,
com dinheiro p'ras carcaças
hoje é tudo mais decente.

Lá do Brasil nos mandaram
essa tal canção do samba,
bem ou mal elas dançaram
sem o tal moreno da chama.

Quarta feira, é só desgraça
temos muita guerra na Europa,
ela não nos vai sair de graça
e põe nervosa a nossa tropa.

Pago imposto quando ganho
que até me parece normal,
dar um pouco do que tenho
faz levantar minha moral.

Mas quando eu o vou gastar
volto a saldar outro imposto,
compro ou vendo, é só pagar
pouco sobra, é meu desgosto.

Qualquer dia eu vou herdar
o que meus pais arranjaram,
mas também eu volto a pagar
aquilo que eles já pagaram.

Como poderei também concordar
com o Iva em todas as compras,
só falta um imposto de olhar
a tudo o que está nas montras.

Digo aos nossos governantes
que nós queremos, quem vota,
dêem-nos exemplos bastantes
mas não façam tanta batota.

Eu queria ser aquele imenso campo
onde crescem e vivem lindas flores
com o sol e orvalho por seu manto
braços abertos no espaço de mil cores.

Eu queria ser a grande pedra amiga
dura lá no alto de porte imponente
na casa onde o milhafre se abriga
pedir ao céu pelos pecados do crente.

As pedras também choram de tristeza
se fecham em si, escondem a grandeza
esperando o seu fim feito de areia.

Cansadas com a espera e grande demora
grande pedra se vai desfazendo e chora
voltando exposta ao sol que a incendeia.

Ele tem empatia na alma
que é faísca importante,
com seu olhar me acalma
no meu deambular errante.

Onde ele passa deixa luz
como um lindo pirilampo,
sabe escutar e me seduz
por isso lhe quero tanto.

Está sempre no tempo certo
e vai desatando esses nós,
eu gosto de o sentir perto
com ele nunca estamos sós.

Por ele eu irei recomeçar
pois me tratou das feridas,
dá-me a força p'ra avançar
com ele já são duas vidas.

Quando alguém ama na vida
tudo faz para nós sentido,
dentro de nós há a guarida
para outro coração partido.

Duas crianças brincando
na cozinha com a panela,
ele põe o nabo e migando
dizendo, põe o sal nela.

Vou pôr mais esta batata
mas a põe também com casca,
quando ela vai por a bata
diz tu primeiro a descasca.

A casca dá-lhe o tal sabor
que tinha a da minha avó,
depois ao cozer com o calor
até nos sabia ao pão-de-ló.

A minha mãe lá na cozinha
não quer ajuda de ninguém,
muito menos dessa vizinha
quando nós recebemos alguém.

Na tua casa, antes de comer
vocês também costumam rezar?,
nós não temos tempo a perder
pois a minha mãe sabe cozinhar.

Não há ninguém neste mundo
que isto ele possa afirmar,
eu sou rico, mas tenho tudo
pois disso me poderei gabar.

Mas o Alfredo lá do fundo
ao levantar-se, fala assim:
o meu pai tem muito estudo
e traz brinquedos para mim.

O Zé, aquele menino do lado
diz que o pai lhe deu o cão,
mas também um canil pintado
e corrente p'ra trazer à mão.

A nossa Nelinha lá do canto
o meu pai tem carro e casa,
e tem uma empresa de encanto
ele assa os frangos na brasa.

Não, o meu pai é que tem tudo
diz o Pedrinho que agora falava
a minha mana disse: eu amo o Segismundo,
- Era só isso que me faltava!

Prenderam o senhor Ambrósio
que ao banco roubou milhões,
estava metido nesse negócio
em que duplicavam os cartões.

Numa cadeia ele foi metido
como fosse grande batoteiro,
mas para ele não tem sentido
pois o banco roubou primeiro.

Então confessa toda a verdade
que o muito dinheiro roubou,
sim, eu tomei essa liberdade
mas foi o banco é que começou.

Senhor Juiz, eu pus no banco
todo o dinheiro que eu tinha,
eles o rentabilizaram tanto
emprestando a quem lá vinha.

Receberam esses altos juros
com esta constante inflação,
taxas cobraram, eu em apuros
não deram por fim um tostão.