Cruzeiro da Amêndoa

domingo, 6 de novembro de 2022

Começo plantando os pés
no soalho do meu quarto,
sou esperança espalho fé
e fiel àquele meu retrato.

Planto a alegria na mãe
e faço até sorrir o papá,
planto a inveja no irmão
nos mimos se alguém me dá.

Planto estrelas lá no céu
em claras noites de Outono,
que são cobertas com o véu
se triste meu coração ponho.

Planto abóboras no quintal
no princípio da Primavera,
lanço os sonhos p'ro canal
pensando que alguém espere.

Planto a paz no pensamento
e esperança que ela se espalhe,
salvando o pobre e inocente
que às mentes más atrapalhe.

Conta o avô: - No meu tempo,
mulher que já foi beijada,
fica só, em esquecimento
nunca mais vai ser casada.

Meu pai para o contrariar
o mundo está em vertigem,
no meu para a mulher casar
tinha que ainda ser virgem.

A mulher era o tal objeto
que dava jeito lá em casa,
mas dela vinha todo afeto
que eu criança, mais amava.

Os homens vão-se moldando
porque o tempo não parou,
as senhoras vão estudando
e o ser fraco se emancipou.

Meu neto, o homem moderno
avô, diz aí o que quiseres,
eu gosto de um ser materno
basta-me que sejam mulheres.

Não vale só ter boa figura
bonito e um corpo perfeito,
se isso for só uma moldura
sem a essência do respeito.

Mesmo um diploma académico
ou aquele cargo importante,
político ou mesmo o médico
se o não for, fica distante.

Todo o ser com essência pura
limpa, ainda não contaminada,
brilha naquela noite escura
lá deixa as marcas, é amada.

Se esse parecer, é a moldura
de um quadro ainda inacabado,
pode ter aquela madeira dura
mas ele nunca irá ser o amado.

A aparência só, não é nada
por ser magia p'ro os olhos,
mas, a boa essência educada
são o puro e não os folhos.

Não existe melhor vitamina
para avós, que seu netinho,
mesmo aquela neta traquina
mais o seu rebelde Pedrinho.

O avô por dentro e sorrindo
abafando mas querer mostrar,
e avó feliz lá vai sentindo
ouvindo seus netinhos palrar.

Num sorriso livre da criança
está aquela mostra da pureza,
entre elas e avós uma aliança
da vida com toda a sua beleza.

Sem avós, não haveria passado
nem as histórias para contar,
sem crianças um mundo parado
ou mesmo jardins para brincar.

Bom momento teve nosso poeta
quando estabeleceu as alianças,
avós, netos, na mesma coberta
o melhor do mundo, são as crianças.

Amigo, não te esforces tanto
não queiras tu mudar o mundo,
mas se procuras mais encanto
pensa melhor, vai mais fundo.

Eu só penso em mudar o meu
pois é ele que me incomoda,
do que eu não gosto, morreu
porque tudo aquilo me afoga.

E como vais tu fazer isso
se o teu mundo está em ti,
nasceste com o compromisso
de tu não seres igual a mim?

Deito fora o que me maça
e meu coração fica maior,
entra nele quem me abraça
encho-o de luz e mais sol.

Deixo entrar gestos de amor
revivendo a antiga saudade,
dou ao meu futuro mais cor
mas valorizo mais a amizade.

Dar tudo sem esperar troca
é o olhar, ver nela a luz,
dizer, amo sem abrir a boca
e amando o que faz, a seduz.

Abraça o filho, não lhe toca
num olhar molhado lagrimoso,
quando não presente a sufoca
em dias da ausência duvidosa.

Amar um filho é como um rio
aconchegando seus afluentes,
preenchendo os espaços vazios
com suas perguntas inocentes.

Naquele grande coração da mãe
existe lá no meio seu portão,
para o seu filho e mais ninguém
está sempre aberto seu perdão.

Mãe não vê, nada lhe importa
ao sentir seu filho dormindo,
só esse lindo ser a conforta
e todo o prazer está sentindo.

Hoje, é manhã de Outono
local onde a terra acaba,
tem Portugal como o dono
ali o mar tapou a estrada.

Aqui a Europa chega ao fim
no nosso bom Cabo da Roca,
ainda chegam gritos a mim
desses aventureiros em rota.

No cantinho, a nossa terra
entre os Pirinéos e o mar,
ouvem-se gritos da guerra
e novas bombas p'ra matar.

Lá bem no fim do outro mar
entre si eles se vão matando,
mas, as sobras desse lutar
aos poucos nos vão chegando.

Eu peço aos povos da terra
parem e pensem com juízo,
cantem, bailem sem a guerra
não estraguem o meu paraíso.