Cruzeiro da Amêndoa

domingo, 10 de abril de 2022

O campo cheio de orvalho
o sol espreitando no monte,
homens chegando ao trabalho
e a água a correr na fonte.

O vento é frio e agreste
no campo é livre e aberto,
sendo o ambiente silvestre
tem vida e não é deserto.

Fugindo de tais barafundas
duma cidade aos tropeções,
eu gosto de ver as varas

dos porcos com seus leitões.

Ver os animais em liberdade
dão-me paz, respiro melhor,
já sentia a grande saudade
de olhar isto em meu redor.

Nasci na minha casa de campo
mas o mar foi a minha origem,
sinto por isso aquele encanto
de água, terra entre fuligem.

A guerra vai terminar
com a última reunião,
os líderes a vão selar
com um aperto de mão.

Fica a velhinha sentada
meditando os seus cadilhos,
a guerra, por ser malvada
já lhe levou três filhinhos.

Aquela mulher ainda nova
pensa no seu ente querido,
a guerra o levou p'ra cova
ele que era o seu marido.

Vejo à espera umas crianças
olhando ao longe e me dói,
sem saber têm a esperança
que chegue o seu pai herói.

Alguém vendeu aquele país
eu vejo quem paga o preço,
se houver no mundo um juiz
justiça nunca é em excesso.

Eu hoje sou mais maduro
e não por ter mais idade,
mas da minha forma pura
experiência e capacidade.

O mais fácil é ilusório
não me vou deixar prender,
do teu fácil reportório
nunca mais me vou esquecer.

Depois de eu ser enganado
e na primeira acreditar,
algo me diz, tem cuidado
estou pensando e esperar.

Eu não tenho a obrigação
ter que acreditar em nada,
posso, pois, dizer que não
vou pensar, muito obrigada.

Ponderado é o ser maduro
nunca embarcar de primeira,
pensar primeiro no futuro
não ter pressa ser lampeira.

Demonstra hoje o teu amor
amanhã podes já não estar,
dá àquele pobre o cobertor
mais um sorriso a consolar.

Fala com as palavras ternas
às pessoas que encontrares,
põe a tristeza em cavernas
mais brilho nos teus olhares.

Não adies mais o teu sorriso
junta o teu olhar de candura,
pensa, estares a dar o paraíso
mais um teu beijo de ternura.

Com o grande abraço caloroso
aos tristes e acabrunhados,
para eles muito mais saboroso
ficando da tristeza libertados.

Não sei se amanhã cá estarei
hoje eu quero a fraternidade,
porque amanhã, talvez esgotei
aquele meu prazo de validade.

No princípio foi catálogo de lugares
lá viviam em grupo os tais humanos,
mas muito depois de os conquistares
os itinerários foi obra dos Romanos.

Mas aquele espelho mágico do mundo
foi aberto pelas grandes descobertas,
explorando a terra e o mar profundo
deixou nosso mundo de portas abertas.

Ficamos todos a saber de outra gente
de pele, nariz e olhos de outra cor,
ainda hoje se discute a tal semente
mesmo que entre as raças haja o amor.

Trouxeram para nós os seus rituais
recheados de muitas danças e magia,
mostrando os seus hábitos culturais
cheios de movimentos e de fantasia.

As nossas grandes mentes estudaram
tão grande foi a profusão religiosa,
no grande medo para eles acreditarem
no seu ídolo ser, divino e milagroso.

Não tenho noção do tempo
já passou quási uma vida,
algumas curtas, eu lamento
e a minha já vai comprida.

Perco pessoas que eu amo
nunca vou deixar de amar,
penso nelas, logo as chamo
para com elas conversar.

Perdi já colegas das lutas
dos novos e mais antigos,
não há lugar p'ra disputas
serão sempre os meus amigos.

Eu posso perder a coragem
quando me escorrega um pé,
mas com reserva na bagagem
tudo eu farei por ter fé.

Reter da minha vida o melhor
e ter na memória a lembrança,
imitando aquele grande farol
que aos perdidos dá esperança.

Na loja eu sou cliente
mas se leio sou leitor,
nos sociais sou utente
se vejo, sou o espetador.

Se viajo sou o turista
se não pago o caloteiro,
ao revender, o vigarista
nos transportes passageiro.

Nos correios sou remetente
para o estado contribuinte,
no hospital sou o paciente
se ouço rádio sou ouvinte.

Lá na igreja eu sou irmão
e no restaurante o freguês,
nos filmes eu sou o vilão
na vida, um bom português.

Ao votar, eu sou o eleitor
para os jornais acidentado,
no super sou consumidor
ao morrer já sou um finado.