Cruzeiro da Amêndoa

quarta-feira, 3 de novembro de 2021

Marcaram para mim uma viagem
mas não sei quando a farei,
vou despido, estou de passagem
levo todo o bem que eu semeei.

Quem nunca deu nada a alguém
deixou por cá um grande vazio,
morre e não leva um vintém
e adormece só, triste e frio.

Fazer feliz a quem precisa,
dando-lhe aquilo que sobra,
ainda ficas com tua camisa
mas no teu ego, a boa obra.

No dar há mais felicidade
que na pessoa ao receber,
ao dar, há conforto caridade
no outro há fome, quer comer.

Quando der tudo que tenho
fico livre e em paz comigo,
vou de viagem, já não venho
deixo nas lembranças amigo.

O painel deitado ao sol

colhendo dele mais calor,
transforma em coisa maior
a energia em mais valor.

Ao produzir mais energia
do vento ou água do mar,
para acabar com a agonia
poder melhor eu respirar.

Mas quanto custa o painel
que quero na minha casa,
será que poupo algum papel
ou gasto mais que pagava.

Quem vai gostar do painel
estendido sobre um telho
são as rolinhas cor de mel
que julgam painel espelho.

Mas se eu quiser contribuir
para limpar toda a energia,
nuclear, carvão a extinguir
dando ao mundo mais alegria.

Árvore grande e milenar
vive no jardim da terra,
e, nova gente veio mandar
vamos corta-la com serra.

Porque fica no caminho
por onde queremos passar,
põe-se a nova no cantinho
e assim vamos ter mais ar.

Já dei sombra ao teu avô
ao teu pai servi de escada,
tu brincaste com teu robô

com teus amigos à apanhada.
é velha: o tronco é cavernoso
e ocupa todo este bom espaço,
quando vier o tempo invernoso
no meu lume aquece o regaço.

Vendo que vai ser cortada
pois jardineiro se abeira,
diz: o cabo do teu machado
é feito com minha madeira.

O silêncio é meu companheiro
e vou lutar muito para o ter,
ouço bem o som deste ribeiro
e é paz o que vou recolher.

Ouvindo aquela água a correr
o seu borbulhar me acalma,
pensando o que irei escrever
e abrindo a porta da alma.

Silêncio a paz e pensamento
ao olhar um céu estrelado,
são o mais forte alimento
no meu recolhimento calado.

O Eremita anda à procura
de encontrar a sua paz,
sempre só em noite escura
fugindo ao seu satanás.

Há sempre algo que incomoda
num canto da nossa mente,
vamos passar-lhe de roda
estar em paz com toda a gente.

Estou sozinho aborrecido
não ouço e estou calado,
sinto-me só e deprimido
estou vivendo o passado.

Se amanhã for vigoroso
correr saltar um muro,
sempre livre e ansioso
estou vivendo no futuro.

Ouço as rolas lá a traz
bebo a água da nascente,
estou totalmente em paz
e vivendo o meu presente.

Todo o passado eu carrego
seu peso a todo o momento,
se o esquecer me liberto
deitando tristeza ao vento.

Juntando em mim emoções
de uma vida tão comprida,
boas e más as recordações
são neste momento a vida.

Que mundo este que não sente
a dor duma criança que não ri,
de olhos tristes, ela não mente,
tem só escuridão dentro de si.

Que mundo este ao não sentir
nem ouvir gemidos da criança,
chorosa e triste a não sorrir
brincar, ter ainda a esperança.

Milhões caminhando, muita dor,
fugindo da miséria e da fome,
o mundo não houve o seu clamor
comendo, bebendo, à noite dorme.

Nesta hora de poupar o que temos
bem dividido para todos chegará,
não estragar o que não comemos
cuidar bem da terra, e ela viverá.

A corrida louca e sem sentido
tentando destruir cada vez mais,
o mundo esgotado e desnutrido
esgota estes humanos e animais.

Deixo que a vida me faça
o mesmo que faz às flores,
nascer em estado de graça
e crescer cheio de amores.

Crescer livre num jardim
bem cuidada por alguém,
carinhos e regas sem fim
como beijos de minha mãe.

Tendo as rosas vida curta
mesmo expostas na floreira,
para deixar cá o meu fruto
envelheço como uma roseira.

Já seca com o tronco velho
nasce em mim novo rebento,
eu faço dele o meu espelho
mais um verão, não aguento.

As flores como os animais
insetos, larvas pinheiros,
somos tal qual roseirais
todos mortais em canteiros.