domingo, 5 de abril de 2020

Moral




Quem sou eu p'ra te julgar
          pois dizem que fazes mal,
          ser injusto e querer pensar
          que eu sou dono da moral.

          Terei culpa em ser assim?
          mas não pedi p'ra nascer,
          houve quem pensou por mim
          querendo o que eu ia ser.

          Milhões de seres neste mundo
          mas não há nenhum igual,
          por mais que façam estudo
          em ser humano ou animal.

          O Jorge quer ser perfeito
          e o irmão vai à igreja,
          para o Jorge ele tem defeito
          e ele quer ser o que deseja.

          As peças com que fui feito
          são parecidas não iguais,
          no molde e do mesmo jeito
          mesmo tempo mesmos pais.

          Nós nunca iremos saber
          de onde vim e porque estamos,
          mas sabemos que ao morrer
          de grande viagem voltamos.

O Ditador





Pensei não voltar a ver
          o que já vi em Birkenau,
          por ser um pequeno ser
          pisado por outro ser mau.

          Chamar ser ao novo vírus
          é respeitar o seu poder,
          por não se medir aos quilos
          mais teremos que o temer.
  
          Em caixões bem alinhados
          numa igreja estão à espera,
          para um forno os queimar
          matando a fome a tal fera.

          Estamos fechados em casa
          e nas ruas é um deserto,
          o vírus é grande ameaça
          e ninguém o quer por perto.

          Seja um vírus ou ditador
          a mandar nesta matança,
          só nos traz doença e dor
          do velhinho ou à criança.

Vírus do Século






Há três semanas na moldura
          já penso ser um retrato,
          mas é a forma mais segura
          de me defender do buraco.

          Vejo de longe um vizinho
          que passa com a boca tapada,
          sem falar, eu ando sozinho
          e não saio da minha morada.

          vai ser longo o isolamento
          e as mortes são aos milhares,
          dos que vão, fica um lamento
          que os velhos fiquem nos lares.

          Não se vislumbra um final
          deste castigo tão forte,
          nesta luta que é mortal
          que se estende até ao norte.

          Diz o Papa e com razão
          ninguém se salva sozinho,
          vamos todos dar a mão
          e salvar o nosso vizinho.

Vida Hoje




Já lá vão os quinze dias
          da quarentena obrigatória,
          estava certo o que dizia
          são muitos no crematório.

          Acordo ou vou-me deitar
          e de dia faço a limpeza,
          já me começo a cansar
          vou ter uma vela acesa.

          Ouço a rádio o dia inteiro
          com locutores a brincar,
          mas a intenção é primeiro
          para o meu moral levantar.

          Ainda o estão estudando
          as nossas mentes brilhantes,
          mas ele, muitos vai matando
          enganando os seus tratantes.
         
          Dizem que o homem é grande
          e o vírus coisa pequenina,
          que voa e no ar se expande
          sem o homem ter uma vacina.

2020 Negro




O longo isolamento não acaba
          maldito silêncio me assusta,
          estou numa gaiola fechada
          e o vírus matando gente justa.

          Avança pelo mundo como herói
          o vencedor não tem fronteiras,
          entra em cada corpo e o destrói
          tombando todas as barreiras.

          Não há Continente que o queira
          mas ele é forte e se instala,
          viaja e não precisa de cadeira
          vai de graça e não leva mala.     

          Sem defesas e remédio no avanço
          vai chegar até ao fim do mundo,
          ao findar talvez, no seu descanso
          Os humanos poderão tê-lo moribundo.

          Por certo merecemos tal castigo
          ao não respeitar nosso planeta,
          comemos tudo: até um fiel amigo
          destruímos tudo o que se aguenta.

terça-feira, 24 de março de 2020

A Peste




Longo retiro quarenteno
          e o pensamento não pára,
          vejo um mundo tão pequeno
          para um vírus que dispara. 
     
          Não há uma parede segura
          nem fronteira blindada,
          ele é já uma peste madura
          e é visita não convidada.

          Ele tem segredos estranhos
          e não diz de onde partiu,
          talvez de um rato ou aranha
          ou da cobra alem do rio.

          Dizem que cada cem anos
          a natureza faz razia,
          para fracos seres humanos
          com uma grande pandemia.

          Vamos todos dar as mãos
          e resistir ao invasor,
          esperar o próximo verão
          e sair desta luta vencedor.

Isolamento


Hoje, isolado oitavo dia
          ninguém passa nada mexe,
          nesta estranha pandemia
          fechou tudo até a creche.

          Não abro a boca p'ra ninguém
          nem falo para ela ouvir,
          para que alguém me ouça bem
          talvez tenha que usar funil.

          Onde moro:parece um deserto
          e quem passa olha de lado,
          nesta luta em campo aberto
          alguém vai estar infectado.

          As fronteiras estão fechadas
          não queremos mais turistas,
          vamos lavar bem as calçadas
          e dar férias aos fadistas.

          Pergunto ao mundo que sabe
          que estuda e pensa sereno,
          como é possível tal maldade 

          sendo um bicho tão pequeno.